O monstro consumista!

Todos gostam de todos, mesmo quando não é bem assim! O ritual exige que se embrulhe o Ferrero Rocher que sobrou do inverno passado, a bela da cueca, ou melhor ainda, a peúga branca com raquetes! O povão agradece ainda mal refeito dos encontrões, apalpões e...contusões que uma ida às compras nesta época implica!

É ver as criancinhas arrastadas pelos corredores dos Centros Comerciais aos gritos, de ranho a escorrer pela face e a suplicar por uma moeda para enfiar numa maquinola que lhe dá dois abanões e a faz feliz. É ver este, aquele e toda a gente a gastar o que tem, o que não tem e o que alguém há-de pagar!

A família? É claro que ninguém a quer desapontar. Ainda que esteja depositada num qualquer asilo, numa cama de hospital ou na solidão do lar. No dia 24 come bacalhau com todos, quer queira quer não queira, porque manda a tradição! Tem que ser, ou no dia seguinte não nos sentimos solidários! Isto de espírito natalício tem as suas regras e não convém contrariar!

Porque é que não deveremos gostar da família se ela só existe 15 dias por ano? Porque é que quem vive nas ruas das nossas cidades só tem carências em Dezembro? Porque é que quem vive excluído 360 dias por ano, merece a nossa atenção nos outros 5?

O defeito não está em nós, nem tal me passaria pela cabeça, por mais infernal que fosse. Está onde então?

Aquele abraço infernal!